quarta-feira, 27 de março de 2013

Hilda Hilst

Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.






Nascida na cidade de Jaú, interior do Estado de São Paulo, no dia 21 de abril de 1930, filha única do fazendeiro, jornalista, poeta e ensaísta Apolônio de Almeida Prado Hilst e de Bedecilda Vaz Cardoso. Com pouco tempo de vida, seus pais se separaram, o que motivou sua mudança, com a mãe, para a cidade de Santos (SP). Seu pai, que sofria de esquizofrenia, foi internado num sanatório em Campinas (SP), tendo nessa época 35 anos de idade. Até sua morte passou longos períodos em sanatórios para doentes mentais.

Em 1946, pela primeira vez, visitou o pai. Em apenas três dias, no pouco tempo que passou com ele, perturbou-se com sua loucura. Em "Carta ao Pai" diz a biografada:

"Só três noites de amor, só três noites de amor", implorava o pai, sim, o pai, ele nunca fizera uma coisa como essa, sim, era Jaú, interior de São Paulo, um dia qualquer de 1946, sim, a filha deslumbrante, tremendo em seus 16 anos, sim, o pai a confundia com a mãe, a mão dele fechada sobre a dela, sim, o pai a confundia com a mãe, a confundia, sim?..."

Aconselhada pela mãe, em 1948 inicia seus estudos de Direito na Faculdade do Largo do São Francisco. A partir de então levaria uma vida boêmia que se prolongou até 1963. Moça de rara beleza, Hilda comportava-se de maneira muito avançada, escandalizando a alta sociedade paulista. Despertou paixões em empresários, poetas (inclusive Vinicius de Moraes) e artistas em geral.

Hilda lança, nos dois anos seguintes, seus primeiros livros: "Presságio" (1950), e "Balada de Alzira" (1951).

Conclui o curso de Direito em 1952. Três anos depois publica "Balada do Festival".

No ano de 1957 viaja pela Europa por sete meses (junho a dezembro). Namora com o ator americano Dean Martin e, fazendo-se passar por jornalista, assedia, sem sucesso, Marlon Brando, outro galã de Hollywood.

Em 1959 publica o livro de poesia "Roteiro do silêncio" e "Trovas de muito amor para um amado senhor". Os compositores Adoniran Barbosa ("Quando te achei") e Gilberto Mendes ("Trovas"), entre outros, se inspiraram em textos da autora.

É agraciada com o Prêmio Pen Club de São Paulo pelo livro "Sete cantos do poeta para o anjo", em 1962. Abre mão da intensa vida de convívio social para se dedicar exclusivamente à literatura. Tal mudança foi influenciada pela leitura de "Carta a El Greco", do escritor grego Nikos Kazantzakis.

Muda-se para a Casa do Sol, construída na fazenda, onde passa a viver com o escultor Dante Casarini, em 1966, por imposição de sua mãe. Morre seu pai.
Em 1967 redige "A possessa" e "O rato no muro", iniciando uma série de oito peças teatrais que escreveria até 1969. Lança "Poesia (1959 / 1967)".

Em 1969 escreve "O verdugo" e "A morte do patriarca". A primeira recebe o Prêmio Anchieta. A montagem de "O rato no muro", sob a direção de Terezinha Aguiar, é apresentada no Festival de Teatro de Manizales, na Colômbia.

Em 1972 o Grupo de Teatro Núcleo, da Universidade Estadual de Londrina, sobre a direção de Nitis Jacon A. Moreira, encena a peça "O verdugo". Essa mesma peça é encenada no Teatro Oficina, em São Paulo, sob a direção de Rofran Fernandes, no ano seguinte, época em que foi lançado seu novo livro "Qadós". "Júbilo, memória, noviciado da paixão" é lançado em 1974. No ano de 1977 é publicado o livro "Ficções", que recebe o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), como "Melhor Livro do Ano".

Em 1984 saem os "Poemas malditos, gozosos e devotos". Dois anos depois, em 1986, publica os livros "Sobre a tua grande face" e "Com meus olhos de cão e outras novelas". 1989 marca o lançamento de "Amavisse".

Com "O caderno rosa de Lori Lamby", livro que consagra a nova fase iniciada em "A obscena senhora D", a escritora anuncia o "adeus à literatura séria" (1990). Justifica essa medida radical como uma tentativa de vender mais e assim conquistar o reconhecimento do público. A obra provoca "espanto e indignação" em seus amigos e na crítica. O editor Caio Graco Prado se recusa a publicá-la e o artista plástico Wesley Duke Lee a considera "um lixo". Lança "Contos d'escárnio/Textos grotescos e Alcoólicos".

O quarto livro dessa fase que, para muito, como dissemos, causou "espanto e indignação", "Cartas de um sedutor" é lançado em 1991. O livro "O caderno rosa de Lori Lamby" é traduzido para o italiano. Estréia, em São Paulo, a peça "Maria matamoros", adaptação do texto "Matamoros" que se encontra no livro "Tu não te moves de ti".

Em 1999, lança a antologia poética "Do amor". Sob a coordenação do escritor Yuri V. Santos entra no ar seu site oficial:

http://www.angelfire.com/ri/casadosol/hhilst.html.


Agraciada, em 2003, pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), na área de literatura, com o Grande Prêmio da Crítica pela reedição de suas "Obras completas".

Hilda Hilst faleceu no dia 04 de fevereiro de 2004, na cidade de Campinas (SP).



Marcela Oliveira

2 comentários:

  1. "Vontade de não dar sentido algum às coisas, as palavras e à própria vida. Assim como é a vida na realidade ausente de sentido", frases de Hilda Hilst como essa, marcam sua carreira lietarária, a escritora tinha como características de sua personalidade o pensamento avançado, a boemia, descontroles emocionais, instinto sedutor escritas em suas obras literárias.

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  2. Usando o caração,os sentimentos, desejos e vontades que tinha, Hilda Hilst escritra literaria, trazia para tudo o que escrevia o sentimento, aquilo que no momento sentia vontade de comprtilhar. Resolveu realmente seguir pela literatura apos ouvir os conselhos de sua mãe, em fazer aquilo que sabia e gostava.

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